Nas últimas semanas o nome do ministro da Economia, Paulo Guedes, vem figurando em diversas manchetes de sites e jornais. Desta vez, o destaque se dá pelo seu envolvimento no escândalo do Pandora Papers, projeto do Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ) que reúne cerca de 600 profissionais pelo mundo e que foi divulgado no dia 3 de outubro.
Segundo os documentos revelados pelo projeto, Paulo Guedes e Roberto Campos Neto (presidente do Banco Central) mantiveram empresas em paraísos fiscais enquanto ocupavam cargos relevantes no governo Bolsonaro, tendo acesso à informações privilegiadas, além da possibilidade de decidir sobre questões da política econômica que influenciavam diretamente seus investimentos no exterior.
As chamadas offshores (empresas abertas em territórios onde há menor tributação para fins lícitos) de Guedes e Campos Neto se beneficiaram das mudanças na conjuntura da economia no país. Os investimentos da empresa de Guedes nas Ilhas Britânicas valorizaram R$ 14 milhões com a alta do dólar estadunidense. É preciso lembrar que a valorização dessa moeda, que ficou 40% mais cara em relação ao nosso Real durante o governo Bolsonaro, foi uma política defendida por Guedes.
O nome do Ministro figurar em esquemas duvidosos não é novidade. Denúncias feitas recentemente pela advogada Bruna Moratto na CPI da Pandemia no Senado vincularam o Ministério da Economia à operadora de saúde Prevent Senior em um “pacto da morte” com atuação criminosa no cuidado de pacientes internados com COVID-19. A empresa também foi listada no Pandora Papers como detentora de riquezas no exterior.
Quem é e de onde veio Paulo Guedes?
Atual ministro da Economia do Brasil, Paulo Roberto Nunes Guedes é economista carioca formado pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), mestre e doutor pela Universidade de Chicago e foi professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ) e da Fundação Getúlio Vargas (FGV).
Na década de 80, foi professor da Universidade do Chile durante a sangrenta ditadura de Augusto Pinochet, período que os Chicago Boys (economistas chilenos liberais formados na Universidade de Chicago) implementaram uma série de reformas econômicas, como privatizações, previdência por capitalização, reforma tributária, trabalhista e desregulação da economia.
Após seis meses no Chile, Guedes decidiu voltar ao Brasil. Sua formação em Chicago e sua experiência com a ditadura chilena definiram sua cartilha liberal, que consiste em redução do tamanho do Estado por meio da privatização, controle das contas públicas e incentivos para o investimento privado, mesmo que tudo custe a qualidade de vida dos trabalhadores.
Ele foi fundador de várias empresas privadas, como o Banco Pactual, o JGP e o BR Investimentos, sempre tecendo críticas aos gastos públicos com o bem-estar social. Algumas de suas empresas foram ligadas à denúncias de irregularidades, como a acusação da consultoria GPG de ter se beneficiado em R$ 596 mil após uma fraude da corretora Dimarco que causou um prejuízo de R$ 12,8 milhões à aposentadoria dos funcionários do BNDES.
Guedes também é investigado na Operação Greenfield, que apura se ele cometeu crime de gestão fraudulenta em investimentos com fundos de pensão como a Previdência dos Funcionários do Banco do Brasil (Previ), Fundação Petrobras de Seguridade Social (Petros), Previdência complementar dos funcionários da Caixa Econômica Federal (Funcef) e Previdência Complementar dos funcionários dos Correios (Postalis).
Na época que estava na empresa BR Investimentos, Guedes captou mais de R$ 1 bilhão das entidades. O Ministério Público Federal e a Polícia Federal investigam se houve fraude. Sua entrada na política foi ensaiada em 2016, quando o favorito para a Presidência da República nas eleições de 2018 era Luciano Huck – com quem Guedes se reuniu e defendeu que ele deveria ser o candidato de centro, mas o apresentador desistiu da candidatura. Foi aí que a aliança com Jair Bolsonaro surgiu.
Sempre assumindo que não entendia de economia, o então candidato a presidente procurava um economista para orientar sua equipe de campanha, que não inspirava muita confiança ao mercado. Como deputado federal, Bolsonaro chegou a votar contra projetos de Reforma da Previdência e de privatizações. Com Guedes, o atual presidente passou a defender o corte de gastos públicos, a descentralização do poder econômico, reformas e privatizações. Em seu cargo de “super ministro” da Economia, acumulando as funções dos extintos Ministérios da Fazenda, Planejamento, Indústria e Comércio, o “Posto Ipiranga” aprovou a Reforma da Previdência (EC 103/2019) e segue seu plano de privatizar todas as estatais do país.
Servidores e movimentos sociais contra Paulo Guedes
Os servidores públicos estão em batalha contra esse algoz da classe trabalhadora desde a apresentação, no ano passado, de sua proposta de Reforma Administrativa (PEC 32/2020). Caso ela seja aprovada, implicará em desmonte do funcionalismo público no país e na abertura para empresas privadas lucrarem no setor público com a venda de serviços que hoje são gratuitos.
Após a revelação do escândalo do Pandora Papers, servidores públicos e movimentos sociais fizeram manifestações contra o Ministro. No dia 7 de outubro, em um ato em frente ao Ministério da Economia, em Brasília-DF, servidores e estudantes distribuíram cópias de notas de dólar manchadas de sangue com o rosto de Paulo Guedes e levaram uma geladeira vazia e pedaços de ossos para denunciar a alta dos alimentos e a fome que tem afligido a população.
No mesmo dia, o MST fez um ato denunciando a corrupção ligada ao ministro e o “pacto da morte” entre ele e a Prevent Senior.
A Câmara dos Deputados aprovou requerimento de convocação do ministro para prestar esclarecimentos sobre o paraíso fiscal. Foram feitas denúncias junto à Procuradoria Geral da República e o PSOL está recolhendo assinaturas para instalar uma CPI para investigar o caso.
É hora de reforçar a luta pela saída de Paulo Guedes de seu posto. Fora Guedes!
Fonte: SINASEFE NACIONAL