Com a necessidade do trabalho remoto como prevenção durante a pandemia de Covid-19, muitas pessoas em todo o mundo precisaram exercer as atividades profissionais em suas próprias casas. O mesmo ocorreu ao longo de 2020 com magistrados, servidores e estagiários do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4). Para que os escritórios domésticos, mais conhecidos como home offices, não prejudiquem a saúde, é preciso que o mobiliário nesses ambientes seja adequado à jornada laboral diária.

O ergonomista Luís Olavo Melo Chaves, doutor em Ergonomia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) e responsável há 20 anos pela área ergonômica do TRF4, onde é servidor da Divisão de Arquitetura da Diretoria Administrativa, foi o entrevistado do quinto episódio do podcast Justa Prosa, que foi lançado em 23 de setembro. No programa, ele deu dicas sobre como adaptar o home office para evitar problemas de saúde como dores musculares e desconforto visual, por exemplo, e falou ainda sobre a melhor forma de escolher móveis adequados para cada pessoa, entre outros temas.

O ideal para cada um

Chaves observou que as bancadas de trabalho são produzidas pela indústria com base na altura média dos indivíduos. Uma pessoa muito alta terá dor nas costas, pois o móvel está baixo para ela. Alguém de estatura muito pequena também ficará com essa parte do corpo dolorida, pois o móvel está elevado. “É um pecado a gente fazer um projeto pensando no homem médio, a gente exclui todos os extremos”, lamentou, afirmando que a Ergonomia questiona essa visão padronizada e tenta incluir nos desenhos todas as pessoas.

Ele destacou que não existe uma cadeira ideal para todos, pois depende da altura de cada um e de outros aspectos individuais, e que, por mais adequada que seja para alguém, há um limite de tempo para permanecer nela, depois disso é preciso fazer uma pausa, levantar-se e circular. “Não inventaram ainda, na história do mobiliário, uma cadeira em que alguém pode ficar sentado mais de duas horas”, advertiu. Por isso, assentos muito macios não são recomendados, pois podem induzir à permanência ininterrupta por períodos mais prolongados.

O que se defende, salientou, a partir de estudos fisiológicos, é que se faça uma pausa de dez minutos, em posição diferente e sem olhar para telas, para cada 50 minutos trabalhados em frente ao computador. Nesse intervalo, é positivo ficar de pé, caminhar um pouco, tomar um café e fazer alongamento, por exemplo.

O entrevistado ressaltou que os notebooks (antes chamados de laptops) foram concebidos para um uso rápido, complementar ao dos computadores de mesa (desktops). Para quem utiliza apenas esses equipamentos portáteis para trabalhar em casa, ele aconselha comprar um teclado e um mouse separados para conectar ao dispositivo, pois já se comprovou que os que vêm acoplados à mesma estrutura da tela são menos ergonômicos e pouco saudáveis para digitação por períodos mais longos.

Outra orientação é que se mantenha espaço suficiente sob a mesa para a livre movimentação das pernas, sem lixeiras, caixas e outros objetos atrapalhando essas mudanças de posição.

Escritório perfeito vai além da beleza

Chaves também foi um dos palestrantes da edição deste ano do Programa de Desenvolvimento Gerencial (PDG 2020) do TRF4, promovido pela Diretoria de Recursos Humanos (DRH) em plataforma digital. Ao falar no evento, em 25 de setembro, lembrou que todo mundo foi pego de surpresa e teve que se organizar para o serviço remoto com o que já tinha em casa, uma vez que o comércio também estava fechado.

O profissional disse ainda que muitos lhe perguntaram como reproduzir em casa o espaço físico em que se atuava na instituição. Apontou que foi preciso repensar o uso do ambiente residencial, já que antes o convívio com a família no lar acontecia em outro horário, fora do expediente, e não era mais assim.

O ergonomista recordou o caso de uma pessoa que antes trabalhava em casa apenas eventualmente, por curtos períodos, e havia montado um escritório doméstico muito bonito. Quando passou a prestar serviço na sua moradia em tempo integral, no entanto, começou a sentir muitas dores. Segundo o especialista, as imagens inspiradoras de home office divulgadas na Internet em geral são plasticamente muito belas, mas ergonomicamente inadequadas. São projetos “de encher os olhos”, mas “onde está o humano?”, questionou.

O palestrante alertou ainda que há muitas cadeiras vendidas como se fossem supostamente ergonômicas, mas provocam muitos danos à saúde e ao bem-estar. Citou também tipos de cadeiras e precauções com detalhes como quinas e tampo de vidro na mesa de trabalho, por exemplo.

Fonte: Wagner Advogados Associados

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